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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Garota de Ipanema / Vinicius de Morais&Tom Jobim * Antonio Cabral Filho - RJ

Garota de Ipanema

Vinicius de Morais/Tom Jobim
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Garota De Ipanema


  
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor 
***

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Essa Negra Fulô / Jorge de Lima * Antonio Cabral Filho - RJ

Essa Negra Fulô
Jorge de Lima - Al
in Jornal de Poesia
http://www.jornaldepoesia.jor.br/jorge.html 
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Essa Negra Fulô

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Soneto a Beatriz / Luis Vaz de Camões * Antonio Cabral Filho - RJ

Soneto a Beatriz
Luis Vaz de Camões - PT
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Formosa Beatriz, tendes tais jeitos
num brando revolver dos olhos belos,
que só no contemplá-los, se não vê-los,
se inflamam corações e humanos peitos.

Em toda perfeição são tão perfeitos,
que o desenganos dão de merecê-los:
Não pode haver quem possa conhecê-los,
sem nele Amor fazer grandes efeitos.

Sentiram, por meu mal, tão grandes danos
os meus, que com os ver, cegos e tristes
ficaram sem prazer, com a luz perdida.

Mas, já que vós com eles me feristes,
tornai-me a ver com eles mais humanos,
e deixareis curada esta ferida.

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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O "Adeus" de Teresa / Castro Alves * Antonio Cabral Filho - Rj

O "Adeus" de Teresa
 Castro Alves - Ba
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A vez primeira que eu fitei Teresa,
como as plantas que arrasta a correnteza,
a valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."!

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos... sec'los de delírio
prazeres divinais... gozos do Empíreo...
.... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! ... Descansa!..."
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
preenchiam de amor o azul dos céus.
Entre!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

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